sexta-feira, 23 de setembro de 2011

No buraco do pomar...

E no meio do Alentejo, bem longe da minha localidade, descobri um grupo de pessoas fantásticas. Sim, às vezes estas coisas acontecem e somos apanhados de surpresa, uma boa surpresa, conclua-se!
São pessoas com passados diferentes do meu, com histórias de vida incríveis e que me ensinaram muito sobre o Mundo em que vivemos.

Quando digo que os nossos governantes não fazem a mais pequena ideia do que se passa no Alentejo, falo exactamente disto. De pequenas vilas onde vivem pessoas tão "ricas" por dentro, tão receptivas a novos costumes, prontas a aprender, dispostas a crescer. Nunca vivi numa grande cidade, mas o sorriso caloroso e a recepção que estes adultos me fizeram, foi algo emocionante e que duvido aconteça no meio do burburinho da grande cidade.

Gosto do Alentejo. Gosto das pessoas que vivem no Alentejo, que cresceram com as tradições dos antepassados, que sabem os costumes e as mezinhas, que conhecem o campo, que cuidam dos animais. São pessoas felizes, bem-dispostas e que nos recebem com o coração aberto.

Ao longo da minha curta "carreira", sempre valorizei a aprendizagem mútua. Eu posso ter um conhecimento teórico, eles tem um conhecimento prático da vida. Por isso, não me importo de ficar depois das aulas a falar com os meus alunos porque com eles já aprendi tanta coisa. As pessoas ensinam-nos, se estivermos dispostos a aprender.

Graças aos vários alunos que já tive consegui aprender como se cultiva um campo, como se conduz um tractor, como se constrói uma casa, como se veste um morto, como se pinta correctamente uma parede, como se medem os diabetes a idosos, como se muda um pneu a um carro, como se faz a separação do lixo, como se vive numa casa sem electricidade, entre tantas outras coisas.
Apesar de ter aprendido imenso com os mais novos, sinto sempre que venho um pouco mais "rica" para casa, depois de aulas com os adultos. Sou uma jovem, ainda não vivi nem metade do que muitos dos meus alunos viveram, talvez nunca venha a viver, mas se pudesse, passava dias a falar com estas pessoas, a escrever livros sobre as suas vidas, a mostrar ao mundo que aqui, "no fim do mundo", também há pessoas válidas, sábias e dispostas a melhorar o mundo.
Como não posso fazer isto da vida, vou preenchendo a minha vida com pequenos momentos de troca de experiências. Eles tentam perceber o que eu penso, eu tento explicar-lhes o meu mundo, eles tentam ensinar-me como se vive no mundo deles.

Destes companheiros de "férias de verão" vou ter muitas saudades! E talvez por isso ontem tenha falado com eles em Português, para que nos sentíssemos um pouco mais próximos, para que partilhássemos a mesma língua, o mesmo ritmo. E quem diria que eu ainda seria assim tão lamechas?

Vou ter saudades dos bolos de chocolate, das piadas do casalinho, das histórias de espíritos, das gargalhadas, de os ouvir dizer "não escreva mais, Patrícia" e de falar com eles.
Porque "a falar é que agente se entende", já diziam correctamente os meus antepassados.

E fica a promessa de falar SEMPRE com eles em Espanhol, pelos vistos fico mais bonita a falar em Espanhol :)

P.S.-Fica, também, a promessa de ir passar uma semana no Monte dos meus alunos para experimentar uma forma mais ecológica de viver.
um obrigada do tamanho do mundo e um bem-haja para todos.

1 comentário:

  1. Cada pessoa que passa em nossa vida, passa sozinha, porque cada pessoa é única e nenhuma substitui a outra! Cada pessoa que passa na nossa vida passa sozinha e não nos deixa só, porque deixa um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso.
    Charles Chaplin

    Todos nós da turma adorámos as suas aulas,e sobretudo conhecê-la! No que a mim me diz respeito, foi fantástico! Ter-me-ia inscrito no curso mesmo que fosse para aprender árabe, se sabendo previamente que seria como foi. Nada substitui os momentos que vivi, o que aprendi com as suas histórias, e as de todos. Reflecti e questionei-me como nunca antes em determinados assuntos e momentos graças à forma como os assuntos foram trazidos à baila, a questões melindrosas, a posturas, moral e ética do mundo de hoje que estonteantemente se modifica sem que tenhamos tempo de o acompanhar.
    Falei, mas sobretudo ouvi. Pensei mas mais que isso reflecti. Foi um grupo fantástico que por 2 vezes semanais socializou. Criaram-se momentos de diversão incríveis, debateram-se opiniões e o convívio espalhou o melhor que a natureza humana possui! Estou convicto que todos nós ganhámos algo de muito especial neste verão de 2010, e agradeço-lhe imenso isso. O meu muito obrigado por este curso que reacendeu em nós sentimentos fabulosos! Tenho um ínfimo período de existência, ainda assim já conheci muita gente, suficiente para perceber que pessoas como a professora, são gotas num oceano, quando estamos perante tais raras e preciosas gotas só temos que aproveitar e dar valor à vida, pois essa é talvez uma das suas derradeiras essências...

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