domingo, 7 de outubro de 2012

"Os modelos económicos chileno e argentino são a grande vitória das ditaduras. As sociedades que crescem no medo aceitam como legítimo tudo aquilo que provém da força, seja das armas, seja do capital."

in As Rosas de Atacama

Onde é que eu já vi este filme?!


Já alertava Saramago

"Com as palavras todo o cuidado é pouco, mudam de opinião como as pessoas"

Não as atirem ao vento: democracia, igualdade, liberdade... As palavras têm vida dentro delas!
Nunca somos tão fortes como fazemos crer. Mesmo aqueles que já sofreram mais do que esperavam, aquelas a quem a vida magoou de formas inimagináveis, até esses, precisam de colo, precisam de apoio, precisam de conforto. 
Não somos fortes mesmo que já tenhamos caído mil vezes. Não somos fortes mesmo que já tenhamos perdido o nosso mundo e nos tenham deixados, abandonados, no meio dos destroços. Não somos fortes porque não fomos concebidos para sermos fortes, inabaláveis. 
Mas como o mundo tem tendência a sorver as nossas fraquezas, colocamos uma cara de guerra, limpamos as feridas e vamos à luta. 
Reservamos o abraço e o colo para a intimidade do nosso lar e continuamos lutando, lá fora, perante aqueles que preferiam ver-nos falhar, que não se alegram com as nossas vitórias, aqueles para quem as nossas conquistas sabem a derrota, a nojo, a revolta. Porque já cantava o outro "a gente vai continuar"


sábado, 6 de outubro de 2012

Porque não há música melhor para terminar um dia que parecia interminável


O que vai aqui de mensagens em rascunho dava para escrever um livro!!
Serpa tem um encanto especial para mim. Poucos conseguirão entender o fascínio que exerce em mim uma cidade que visitei - à séria - meia dúzia de vezes na minha vida. No entanto, quando chego a Serpa há uma familiaridade nas ruas, um conhecimento tácito da cidade - sem qualquer justificação - que me desarma. E o que eu gosto de cidades que me desarmam... Cidades que transcendem o espaço e o tempo, que marcam a "ferro e fogo" quem as percorre; cidades nas quais não vivemos, cidades que vivem, para sempre, dentro de nós. Gosto de levar essas cidades comigo, quando viajo, quando conheço novos lugares; gosto de ir coleccionando cidades e mundos dentro de mim na esperança de me tornar, também eu, um mundo rico e variado.
Há qualquer coisa nas cidades como Serpa que me cativa, talvez seja o ar antigo - adoro cidades com história, com um passado, com garra, com personalidade - ou talvez seja o facto de nada ter sido planeado, essas cidades aconteceram, foram crescendo sem obedecer a um esquema superior, sem respeitar uma régua e um esquadro; simplesmente nasceram da necessidade, da vida que dentro delas pulsava. Quando chego e entro na cidade há qualquer coisa que me prende. O avô adorava Serpa, o Guadiana. As pessoas que nascem perto de água parece precisar dela para o resto da vida, como se o corpo precisasse da água para respirar, para fluir. Ah, o que o meu avô gostava de passar o Guadiana, de olhar para o rio, de ver as pontes, de relembrar o que guardou bem fundo na memória. Foram tempos difíceis, tempos de guerra e fome, tempos de miséria e dor mas até esses tempos deixam saudade, porque nós éramos diferentes, porque um pouco de nós fica trancado nessas épocas e nada volta a ser como antes!
Lembro-me, com o saudosismo típico dos portugueses, dos piqueniques que fazíamos à beira-rio e da forma como contava histórias sobre aquela cidade muralhada. Talvez a forma como nos vendem algo marque, para sempre, a imagem que vamos ter sobre esse algo.
Sei que para mim Serpa, como Lisboa, como Évora soam sempre a muralhas, a fado e a noites sem dormir. Soam sempre a cantares nas tascas, a xailes para aquecer o coração, a noites vencidas. Soam a passado, a histórias, a tramas e enleios, a paixões avassaladoras... A vida!
Será sempre uma visão romântica, utópica até, mas é esta visão que me faz viajar. O tentar encontrar noutros lugares, em países distantes, a familiaridade que estas cidades exercem em mim...

Nas cidades que construímos hoje, a par com a modernidade temos a impessoalidade. É tudo pré-fabricado, chega tudo em caixotes e é só montar - qual estante do IKEA. As casas não guardam segredos, as paredes não escondem histórias de família e tudo acontece sem que nada de magnificente agite o mundo. Somos todos formatados para pensarmos da mesma forma, para aceitarmos tudo de igual modo. E quando algo diferente surge, uma nuancé nova aparece, prontamente aniquilamos a novidade, abafamos a mudança e colocamos o comboio, outra vez, nos eixos.
Falta-lhes identidade, genuinidade, falta-lhes a identificação com toda uma história, o suor dum povo.

O que nos falta, enquanto humanidade, perceber é  que a modernidade não deve nunca aniquilar o passado, a história, a arte. Falta-nos perceber que aquilo que herdámos não é nosso, apenas temos o dever de cuidar para que os outros que venham depois de nós também possam usufruir. Mas isso já são outros quinhentos...

Enfim, algures durante esta semana surgirá um post com fotos de Serpa, garantidamente! Aquela que o meu avô tanto amava e que me cativou!

Por aqui ouve-se música invernosa. Há dias que custam a passar... Temos que aprender a preenche-los com vozes que nos aqueçam por dentro.


Porque tem uma voz que me faz bem!