sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A necessidade de estabilidade

Durante esta semana tive o prazer de falar com um colega meu que, durante  a sua adolescência, armou-se em aventureiro e correu essa Europa de mochila às costas. Quem me conhece sabe que sempre tive esse sonho, essa vontade de procurar, de conhecer, de partir. Nunca senti que a terra onde nascemos TEM DE SER a terra onde morremos, somos, invariavelmente, seres do Mundo, do Universo!
Depois de conversar com ele, a minha vontade de percorrer esses caminhos aumentou exponencialmente. Não digo que viver em Cuba seja algo horrível, não é! No entanto, sempre senti que aqui não era a "minha praia". A vida, a oferta, o ritmo, as pessoas... Não, não é um juízo de valor, é apenas um desconforto. Creio que a primeira a notar esta "vontade" foi a minha mãe, depois os amigos e agora tornou-se tão palpável que qualquer pessoa que fale comigo, percebe que estou desejosa de partir.
Recordo-me do dia em que telefonei a um amigo meu e lhe disse que ia embarcar para a Venezuela. Claro que o rapaz se espantou e ia caindo da cadeira mas sempre achei que um dia iria fazer esse tipo de telefonema, aquele que anuncia um adeus prolongado, que traz a notícia duma viagem para o outro lado do Mundo.
Em Portugal somos assim, demasiado comodistas (apesar do estigma continuar  a ser com a palavra comunistas, não aprendemos ai ai), demasiado estatais (todos temos que trabalhar sobre a alçada do Estado, com direito a cartão da ADSE e a X dias de férias), pouco empreendedores, pouco sonhadores. Tudo é analisado em lucro, em dinheiro e não em concretização e felicidade. Acredito que grande parte das pessoas que trabalham para o Estado estão a desperdiçar as suas verdadeiras competências e a exercer apenas satisfatoriamente a sua profissão.
Claro que toda esta conversa se torna obsoleta se estivermos a falar duma pessoa com casa, carro, filhos e a dita vedação a proteger o cão! Mas em que Mundo vivemos se não podemos usufruir dos nossos sonhos, se não tivermos nunca o prazer de os concretizar, se nunca os pudermos substituir por outros sonhos novos? Eu gostava tanto de não perder a minha capacidade de sonhar! 

Esta conversa arrastou-se durante intervalos de aulas, esperas pelo toque e entre o ruído dos outros colegas. Ele invejava a minha idade e o sem-fim de possibilidades que ainda existe quando temos vinte anos. Eu invejava a experiência, todas as aventuras que ele tem apontadas no seu diário pessoal e toda a VIDA que ele adquiriu com as mesmas.
Falámos do Che e das suas viagens, ele falou da África onde sempre sonhou viver e eu partilhei com ele a crença que carrego: noutra vida habitei a América Latina.

Ele aconselhou-me a perseguir os sonhos, a concretizá-los, a conhecer outras culturas, outros povos... Eu, pela segunda vez esta semana, tive pena de ser portuguesa. Porque somos pequeninos nesta coisa de sonhar, porque nos contentamos com pouco e porque, sempre que encontramos alguém que ainda possui essa capacidade, rebaixamo-lo e extraímos toda a força e energia do seu ser.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.