Finalmente a Lombriga comprou o livro onde o meu conto aparece. Não digo que o meu conto seja digno de um Nobel mas é meu, algo que eu escrevi e do qual me orgulho.
Durante anos, a Lombriga foi a minha "editora". Ela detém grande parte do meu espólio literário e penso que, um dia, quando eu já não estiver consciente, vai vender os meus textos e ganhar uma fortuna - e neste pensamento não me incomoda nada a ideia de que ela me possa estar a burlar, incomoda-me a ideia de que, algum dia, alguém possa vir a interessar-se pelos meus escritos.
Sempre escrevi muito, por defeito, por feitio, por alegria, por tristeza. As palavras sempre foram "a minha coisa", assim como os livros que, imagine-se, são um conjunto enorme de palavras.
Quando o mundo parecia desabar, sentava-me na mesa do Pocinho e escrevia. As mágoas parecem menos dramáticas quando são transformadas em metáforas.
Nunca fui organizada nos meus escritos. Fui rabiscando folhas, deixando-as espalhadas pelo meu mundo e, talvez um dia, tudo se junte e forme uma grande Patrícia.
Enfim, a Lombriga comprou o meu livro e tenho que escrever uma dedicatória. Tudo isto seria fácil se não a conhecesse há anos. Se não tivesse já partilhado tantos momentos com ela. Se não lhe tivesse já dito tanta coisa como disse. Às vezes sinto que nem precisamos de palavras! E talvez, no nosso caso, as palavras estejam mesmo gastas, mas no sentido literal, já as usámos todas.
Talvez me limite a escrever "para a minha editora, aquela que sempre guardou os meus rascunhos e que sempre acreditou nos meus sonhos" ou "para a minha irmã mais nova, aquela que olha para mim como se eu fosse um modelo a seguir quando, na realidade, sou o oposto do que ela me vê".
Sempre fui a pequenina cá em casa. Quando o Zé chegou eu já era mais-ou-menos grande e agora com o meu pequenino somos mais "mães" que outra coisa. A Lombriga adoptei-a como "irmã mais nova". Ela cedeu-me esses direitos, ouviu os meus conselhos e sinto que, mesmo que estejamos a kms de distância, ela vai sempre vir se eu lhe telefonar.
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