sábado, 17 de setembro de 2011

Mumy

"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."
 
Todos temos heróis, pessoas que veneramos, que olhamos com respeito e carinho e com os quais queremos ser comparados quando formos grandes. Há quem os procure nas páginas dos livros, em grandes lideres do mundo, em actores de cinema ou até mesmo em cantores... Eu tenho a minha em casa: a minha mãe! Sei que parece banal ou corriqueiro mas é difícil "bater" a minha mãe nesta coisa de ser herói.
Sempre gostei de homenagear as pessoas que conseguem ser excelentes seres humanos, no Mundo em que vivemos isso é uma tarefa tão difícil que merece um Nobel quem o consegue. Por isso, senti necessidade de escrever este texto, ainda que ela nunca o venha a ler, ainda que seja só para o ciberespaço...
A história começou no ido ano de 1959. Nasceu numa sexta-feira treze, contudo, isso não foi, de todo, sinónimo de azar para o Mundo, pelo contrário. Desde cedo herdou aquele carácter altruísta que a minha avó Manuela possuía e foi uma criança muito amada. Brincava na rua e era a "boneca" que todos estimavam e tentavam agradar. Não cresceu com a "mania das grandezas" e ajudar o próximo era hábito caseiro, portanto, continuou a praticá-lo com naturalidade. No Natal espalha cabazes de Natal, sempre que um vizinho pede ajuda, não a nega e os sobrinhos/irmãos/primos e demais família tem sempre o apoio desta pessoa fantástica. 
Herdou os rituais dos antepassados mas soube actualizar-se e manter-se sempre como um porto-de-abrigo para os amigos, para os vizinhos, para os familiares, para os colegas e para os alunos. Não sabe dizer "não", em 24 anos nunca a ouvi negar ajuda a quem precisa. Caminha por essas estradas de Portugal sempre que alguém lhe telefona pedindo ajuda. O dinheiro, apesar de não ser algo abundante, é dado sem esperar reembolso. Os alunos encontram nela uma confidente, uma amiga e alguém que lhes ensina mais do que a teoria que vem nos livros, ensina-lhes o que é a vida, a serem melhores seres-humanos.
É, acima de tudo, MÃE! A vida nem sempre foi feliz, sofreu privações, desgostos, perdeu pessoas que amava e viu partir sonhos antes de poderem ser concretizados. Contudo, nunca deixou o coração endurecer, nunca se entregou ao rancor ou ao ódio, aprendeu a perdoar os inimigos, ainda que estes não o merecessem. Grita, tem "queda para o drama" (como gostamos de dizer cá em casa) mas ama-nos, duma maneira incondicional, perfeita, como pouca gente consegue.
Adoro quando ela diz que tem orgulho em mim - ainda que os motivos para tal sejam poucos -, adoro quando a vejo feliz e o meu coração perde um pouco da esperança que tenho no Mundo quando alguém a magoa, quando a vejo chorar.
Passou por períodos de grande sofrimento, mais do que a maioria das pessoas conseguiria aguentar, e sobreviveu. Sobreviveu porque é isso que faz, continua a luta, não desiste, não baixa os braços: é amiga dos seus amigos, cidadã exemplar, profissional dedicada e mãe extremosa.
Por vezes guerreamos, gritamos - há quem diga que somos demasiado parecidas -, contudo, amo-a com todo o meu ser e gostaria de um dia conseguir ser como ela!

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